Semana passada, fecharam o local da qual passei muitas tardes, noites. Conheci pessoas de outras regiões da cidade, de outras cidades e estados. Reduto do rock underground, após 20 anos dando espaço a sonhadores que um dia pensaram que teriam futuro na música, o Templo do underground nacional, o Hangar 110 fechou as portas.
Era o famoso buraco que sua mãe ou a mãe de qualquer garota jamais queria que você estive. Já vi muito cara chegar com instrumento nas costas e depois ir em programas de TV – Nx Zero, Fresno que o digam. Quantos shows não vi na casa, quantas bandas vi nascer e morrer, quantas tantas conheci sem querer. Foram inúmeros dias que saía sem rumo de casa, cheio de questionamento com o mundo, querendo mete o dedo do meio na cara de alguém e dizer “VAI SE FODER, VOCÊ E TODO MUNDO!“. No Hangar, quebrei o cóccix, naquelas noites de loucura adolescente, aquele grito de liberdade que lhe rasga o peito. É intenso. O hardcore comendo solto. Rápido, direto e frenético. Soco na cara! Roda fervendo, levando e dando murro gratuitamente, subindo no palco e se jogando naquele mar de gente. Já saiu de lá com marca de dente na perna, camisa ensaguentada. Sujava a roupa, mas lavava a alma.
Imagem da Internet
Foi amor a primeira escutada. Final dos anos 90, um cd de capa bem tosca – era o Dookie do Green Day, de 94, se não me engano- todas faixas em inglês e bateu. Não entendia uma vírgula de inglês, aprendi pra poder escutar mais daquilo (e olha que nada excepcional). Na mesma época, tinha uns caras estranhos, num clipe num parque de diversão – daqueles de periferia mesma, bem simples – era o CPM 22, aí foi a perdição mesmo. Tinha encontrado meu lugar no mundo.
Tu cresces e seus pais acham que é passageiro, rebeldia adoslescente. Os anos 00 vem as transformações. Se antes o fim de semana era ir pro Pacaembu ou Morumbi, passaram a ser divididas com o Hangar 110. Começa a deixar cabelo crescer, coloca piercing, faz tatuagem e já era. Não era só fase, era essência. Era o que gritava e pulsava lá dentro.
O Templo, fechou. As lembranças, ficam. Foram quintas, sextas, sábados naquela casa. Vários esquentas no boteco da esquina, porção de fritas e cerveja (e olha que nem bebo mais). Guardo com carinho os vídeos que encontro do local, onde me vejo me jogando do palco, no maior sentimento possível. Umas das bandas que vi lá e cito muito aqui, o Dance of Days , que representa todo esse ciclo e vos convido a ouvir. Dance Of Days – O Tempo Não Passou Pra Mim: https://youtu.be/aVGv7fm7XvE
Os anos passaram, sou quase um trintão e o tempo não passou. Amadureci. Vivi o momento. Nasci e fui criado ouvindo rock. De Raul Seixas a Dance of Days. De Beatles aos metal da vida, Mötley Crue, Anthrax – seja farofa ou não. Me criei no hardcore, punk rock e hoje sou isso. Um rapaz riscado, cabeludo, de boné, bermuda, as vezes, de skate. Não foi fase. Sou eu. Como se vê no futuro? Sendo um “tio” igual o João Gordo, com aparência de mal e SÓ. Um “tio” meio doido e de peito aberto. Sem papas nas línguas. Mãe, me desculpa não ser como a senhora queria. Mas, te garanto, que estou sendo o que sempre quis. Algum dia, serei pai , eu espero e que tenha uma criança roqueira para podermos ir aos shows e festivais junto.
Hangar 110, muito obrigado por me fazer evoluir como ser humano e me proporcionar tantos momentos que me senti mais vivo.